| Of Desire
Desejo foi o tema do LAB Foto Contemporânea 2022.
Estamos sempre andando atrás dos nossos desejos. Um caminho sem fim. Quando alcançamos, realizamos um, algum outro já está nos levando por novos passos. Sem fim.
Nesse caminho veio a ideia de um filme com diversas passadas seguindo sempre em frente. Feito desejos. Este foi o meu desejo. Ilustrar a continuidade do andar. Desejar.
Todos nós desejamos. Desejos nos impulsionam. Pedi para que pessoas me enviassem vídeos assim, andando em frente. Outros pés, outros pisos, outros passos. E assim, passo a passo o “Bora” nasceu, seguiu e segue.
Neste caminho, nas discussões do LAB, ficou claro que se os desejos nos levam em frente, no caminho não deixamos de olhar para os lados e ainda focamos no que está perto, mas também no que está longe. Com esta motivação lembrei da ponte, suspensa, na Sea To Sky Gondola, em Vancouver. Lá fiz fotos da ponte de frente e algumas, justamente, mudando o eixo e olhando para o lado. Olhando para o lado nasceu o “Simbora”.
Agora Bora e Simbora pois todos os caminhos são desejos. Desejos nos levam em frente. E para os lados. Desejos nos levam e pronto.
Desire was the theme of LAB Foto Contemporânea 2022.
We are always following our desires. An endless path. When we reach, we accomplish one, another is already taking us through new steps. Without end.
On this path came the idea of a film with several steps moving forward. Like wishes. This was my wish. To illustrate the continuity of the floor. To wish.
We all wish. Desires drive us. I asked people to send me videos like that, walking forward. Other feet, other floors, other steps. And so, step by step “Bora” was born, pursued, and it continues.
On this path, in the LAB discussions, it became clear that if desires take us forward, on the path we do not stop looking at the sides and still focus on what is close, but also on what is far away. With this motivation, I remembered the bridge, suspended, at Sea To Sky Gondola, in Vancouver. There I took photos of the bridge from the front and some, precisely, changing the axis and looking to the side. Looking to the side, “Simbora” was born.
Now "Bora" and "Simbora", because all roads are desires. Desires lead us forward. And sideways. Desires take us and that's it.
Bora!
Simbora
DO DESEJO
Todo desejo começa na alma.
Alma que nos torna assassinos implacáveis, que nos faz correr a matá-lo. Desejo que é coisa, sentimento, experiência. Desejo que é passado, presente e futuro. Desejo que é energia vital, movimento e impulso.
Desejo não cessa, é moto-contínuo de coração e alma. Nos faz caminhantes; estranhos andarilhos em uma direção onde a chegada é sempre um novo ponto de partida. Desejo começa e termina no mesmo palmo de chão. Desejo é chegada e adeus.
Desejo é o último milímetro do precipício. Vamos em frente!
Tão forte e poderoso, que se a vida nos fez pobres mortais, carne e osso, é ele o dono da chave que leva ao castelo. Fantasia. Explode em vermelho sangue, movimento fluido que corre nas veias e ilumina os lábios. E quando o medo encontra o desejo, é só ele que sabe o gosto daquele beijo quando as luzes se apagam e a tela acende. Consciência alterada, pupila dilatada, é só ele que faz valer a pena aquela que pode ser a última dança, da última festa, só ele e mais ninguém.
Desejo é rei. Dono de tudo, domina o corpo, o pensamento, incendeia o peito, inunda o coração de poderosa vontade. É fagulha em campo de pensamento. Nas viagens do imaginário surge, nas percepções de sentidos muitas vezes imperceptíveis. Do nada ele chega imponente, inflamando corpo, coração e mente. Leva embora, abre caminhos em um ciclo sem fim, se renovando, permeando todo o ser, enquanto corpo vivente, existir.
Mas, chega sempre o momento em que a finitude assume o peso de consciência real. Os sentidos embotam em maior ou menor grau; terminal, quase? Mas quando a mácula degenera e os olhos começam a falhar, o desejo mais presente é o de ver. E a luta da chama aprisionada vai em dois sentidos, o de consumir-se e o de resistir. Reflexos que escapam da prisão da pedra, batalha, desgasta. E no caminho, mesmo sem foco, é possível encontrar cores, movimento, leveza e alegria. E como o leve sopro de uma bailarina, o desejo se assusta em ser ele, tentação maior, a esperança.
E o que se faz com o desejo?
Mate-o ou morra.
Deseje.
Mate-o ou morra.
Deseje.
Texto: Leonardo Ramadinha, Evangelina Oliveira e Zenóbio Gomes.